terça-feira, 27 de novembro de 2012

V - Pedro Homem de Melo




NOTA BIOGRÁFICA
Pedro da Cunha Pimentel Homem de Melo

(Porto, 5 de Setembro de 1904 — Porto, 5 de Março de 1984) foi um poeta, professor e folclorista português.

A sua extensa obra encontra-se dispersa pelos vinte e dois livros que escreveu, no período que se estendeu de 1934 a 1979.

Foi um dos colaboradores do movimento da revista Presença. Apesar de gabada por numerosos críticos, a sua vastíssima obra poética, eivada de um lirismo puro e pagão (claramente influenciada por António Botto e Federico García Lorca), está injustamente votada ao esquecimento. Entre os seus poemas mais famosos destacam-se Povo que Lavas no Rio e Havemos de Ir a Viana, imortalizados por Amália Rodrigues, e O Rapaz da Camisola Verde.

Escreveu sobre si próprio:
"Tudo aquilo que, até hoje, escrevi ou mostrei, resultou, apenas, do que sentiram, durante meio século, os meus olhos, os meus ouvidos, os meus pés (e o mesmo será dizermos o meu corpo e a minha alma!) de bailador." 


A MINHA SELECÇÃO

HAVEMOS DE IR A VIANA
 
Entre sombras misteriosas
em rompendo ao longe estrelas
trocaremos nossas rosas
para depois esquecê-las.

Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.

Partamos de flor ao peito
que o amor é como o vento
quem pára perde-lhe o jeito
e morre a todo o momento.

Ciganos, verdes ciganos
deixai-me com esta crença
os pecados têm vinte anos
os remorços têm oitenta.

POVO QUE LAVAS NO RIO

Povo que lavas no rio
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Há-de haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não
Fui ter à mesa redonda
Beber em malga que esconda
Um beijo de mão em mão
Era o vinho que me deste
Água pura em fruto agreste
Mas a tua vida não


Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição
Povo, povo eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso
Mas a tua vida não

PEDRO HOMEM DE MELO

Talvez que eu morra na praia
Cercada em pérfido banho
Por toda a espuma da práia
Como um pastor que desmaia
No meio do seu rebanho.....


Talvez que eu morra na rua
- invia por mim derrepente
Em noite fria, sem lua
Irmão das pedras da rua
Pisadas por toda a gente!


Talvez que eu morra entre grades
No meio de uma prisão
Porque o mundo além das grades
Venha esquecer as saudades
Que roem meu coração.
Talvez que eu morra dum tiro
Castigo de algum desejo.
E que, a mercê desse tiro,
O meu último suspiro
Seja o meu primeiro beijo


Talvez que eu morra no leito
Onde a morte é natural
As mãos em cruz sobre o peito
Das mãos de deus tudo aceito
Mas que eu morra em Portugal!






1 comentário:

  1. Uma maravilha!!...são pérolas da nossa poesia que aqui recordas desse GRANDE, GRANDE Pedro Homem de Melo...quanta saudade!! :)

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