segunda-feira, 12 de novembro de 2012

III - A besta



 I
Fazia parte da manada de incompetentes
Ninguém sabia quem ele era exactamente
A ninguém a besta mostrava os dentes
Porque a besta não se misturava com gente

Um dia foi posto a andar, foi corrido,
Finalmente concluíram, não servia para o lugar
Mas não o deixaram a apodrecer esquecido
Transformaram-no, deram-lhe poder para usar

Passou a pertencer de direito a outra manada
Muito mais selecta muito mais cavalar
Para sem pudor poder tratar os outros à pedrada

Sendo o campeão da ignorância desmedida,
Semeando merda asquerosa ao rastejar,
Assim a besta conseguiu ser promovida.



II
A besta infame exige aos outros agora
O que nunca teve competência para fazer
A besta vai vomitando a toda a hora
Todo o fel que a autorizam a verter

Para cima de quem pela frente lhe aparece
Sem que ninguém tenha poder para se desviar
A besta agora faz o que muito bem lhe apetece
Já tem competência para dar e para vender

Paralisados pelo medo não há quem a faça parar
Nesse seu cego, estúpido e absurdo caminhar
Usa as falsas e eficazes armas da simpatia

E embora os que o rodeiam em nada acreditem
Cobardemente dominados pelo terror tudo admitem
E vão com isso alimentando a besta dia a dia

III
Parece ser um pavão a pavonear-se
Mas o brilho das suas penas não existe
Nem há nada que essa ausência disfarce
Apesar disso pavoneia-se, não desiste

E como tem que lhe diga que tem penas
Grandes, coloridas e  muito bem feitas
Ele continua impunemente a fazer cenas
Que imagina serem cenas perfeitas

Dono de garras horríveis e fedorentas
Emana um mau hálito mais que vergonhoso
Das suas engenhosas e doutorais ventas
 
É o campeão dos campeões da hipocrisia
Até que um dia alguém menos cauteloso
O mande definitivamente para a sua tia.



IV
A sua sede e avidez primária de vingança
Não conhece qualquer espécie de limites
Não pode ser humana a sua intemperança
Tem o cérebro preso com fracos rebites

Em tudo o que diz sente-se o ódio destilar
E é desse processo vil que se alimenta
Põe-se em bicos de patas para brilhar
E é dessa vaidade infame que se sustenta

Aumenta visivelmente, todos os dias, de tamanho
Está cada dia mais imenso, grande, inchado
Transpira pateticamente, banha, suor e ranho

Contamina o ar por onde passa, torna-o viciado
E tem poderes para obrigar todo o rebanho
A ter que respirar o ar por ele impestado


 © Brites dos Santos

1 comentário:

  1. Infelizmente também conheço bem essa espécie pestilenta ....genialmente descrita por ti nestes poemas! Parabéns :)

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