domingo, 25 de novembro de 2012

II - Abade de Jazente




NOTA BIOGRÁFICA
Paulino António Cabral,

Nasceu e faleceu em Amarante  (1719-1789).  
Foi abade da freguesia de Jazente, daí o nome por que é mais conhecido (Abade de Jazente). Pertenceu à Arcádia Portuense, juntamente com Xavier de Matos, seu colega de Coimbra, cidade onde ambos estudaram.

A sua obra fornece-nos preciosos depoimentos históricos e também por ela sabemos dos seus prazeres (Caça, pesca, jogo e boa mesa), das suas fraquezas, do seu triste envelhecer e dos seus amores. Além de poesia de circunstância e romântica, escreveu também textos de conteúdo moral.


As suas obras foram publicadas em dois volumes: 
Poesias de Paulino Cabral de Vasconcelos, Abade de Jazente, vol. I (Porto, 1786) e Poesias de Paulino António Cabral, vol. II (Porto, 1787).


A MINHA SELECÇÃO

SONETO

Cagando estava a dama mais formosa,
E nunca se viu cu de tanta alvura;
Mas ver cagar, contudo a formosura
Mete nojo à vontade mais gulosa!

Ela a massa expulsou fedentinosa
Com algum custo, porque estava dura:
Uma carta de amores de alimpadura
Serviu àquela parte mal cheirosa:

Ora mandem à moça mais bonita
Um escrito de amor que, lisonjeiro,
Afetos move, corações incita:

Para o ir servir de reposteiro
À porta onde o fedor e a trampa habita,
Do sombrio palácio do alcatreiro! 



SONETO II

   
Piolhos cria o cabelo mais dourado;
branca remela o olho mais vistoso;
pelo nariz do rosto mais formoso
o monco se divisa pendurado:

Pela boca do rosto mais corado
hálito sai, às vezes bem ascoroso;
a mais nevada mão é sempre forçoso
que de sua dona o cu tenha tocado;

Ao pé dele a melhor natura mora,
que deitando no mês podre gordura,
fétido mijo lança a qualquer hora:

Caga o cu mais alvo merda pura:
pois se é isto o que tanto se namora,
em ti mijo, em ti cago, oh formosura! 




A CARESTIA DA VIDA

A trinta e cinco reis custa a pescada:
O triste bacalhau a quatro e meio:
A dezasseis vinténs corre o centeio:
Do verde a trinta reis custa a canada.

A sete, e oito tostões custa a carrada
Da torta lenha, que do monte veio:
Vende as sardinhas o galego feio
Cinco ao vintém; e seis pela calada.

O cujo regatão vai com excesso,
Revendendo as pequenas iguarias,
Que da pobreza são todo o regresso.

Tudo está caro: só em nossos dias,
Graças ao Céu! Temos em bom preço
Os tramoços, o arroz e as Senhorias.

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