Deixem-me estar
sossegado.
Estou a pedir-vos
para me deixarem estar sossegado.
Porque é que não
me deixam estar sossegado ?
Estou farto de vos
dizer.
Estou farto de vos
pedir
E tremo só de
perceber
Que não querem
ouvir
Que eu não quero
ser um alinhado
Muito bem educado,
Cuidadosamente
engravatado
Com uma gravata de
ultima moda
Cheia de bonecos e
saliências.
Não quero ser
alguém que se acomoda
Nessas inúteis
aparências
Quero antes ser
alguém que se incomoda!
Ouviram bem?
Alguém que se incomoda!
Até já me têm
criticado
Por não andar
engravatado!
Por favor
deixem-se dessas insistências,
Eu não quero ter
estampado
Numa cara de
ridícula anedota
Um sorriso falso e
idiota,
Um daqueles
sorrisos que querem parecer verdadeiros
Pretensamente
saídos de gentis cavalheiros
Mas que mais se
assemelham a tristes esgares
Saídos afinal de
falsos cavalheiros.
Deixem-me estar
sossegado.
Estou a pedir-vos
para me deixarem estar sossegado.
Não, já vos disse
que não.
Não quero ir a
jantares.
Vão vocês aos
jantares.
Comam tudo e divirtam-se
bastante
Nesses horríveis e
entediantes jantares.
Eu não quero estar
presente nem por um breve instante.
Já disse que não
quero ir.
Não me obriguem a
ir.
Porque é que me
querem obrigar a ir?
E ainda por cima com
o reles argumento
De que os jantares
fazem parte das obrigações profissionais?
Até posso ser considerado
um jumento,
Não me importo que
me considerem um jumento,
Mas essa é
demais...
Não quero ir,
Já disse que não
quero ir!
E depois as
conversas são sempre muito inteligentes
E eu não gosto de
conversas inteligentes
Porque eu não sou
inteligente.
Fala-se sempre e
inevitavelmente
Com muita
importância e muitos ares
De bons e grandes conhecedores,
Do excelente vinho
da região tal,
Da marca tal,
Com um sabor tal,
Que acompanha
muito bem não sei o quê.
Fala-se sempre e
inevitavelmente
Com muita
importância e muitos ares
De bons e grandes conhecedores,
De excelentes
restaurantes
Onde se come muito
bem não sei o quê.
Fala-se sempre e
inevitavelmente
Com muita
importância e muitos ares
De bons e grandes conhecedores,
De assuntos muito
importantes.
De assuntos
confidenciais e muito importantes!
Deixem-me estar
sossegado.
Estou a pedir-vos
para me deixarem estar sossegado.
Eu não quero
pertencer à galeria dos importantes.
Porque é que eu
hei-de pertencer aos importantes?
Eu não preciso de
ser importante.
Ouviram bem?
Eu não quero ser
importante.
Porque eu não sou
importante.
Eu não quero
entrar em surdas lutas de poder
Porque eu não
quero ter poder!
Deixem-me estar
sossegado.
Estou a pedir-vos
para me deixarem estar sossegado.
Eu não preciso de
conversas de bastidores.
Sejam vocês
sózinhos traidores e estupores.
Sejam vocês
sózinhos senhores doutores.
Eu não preciso de
intrigas
E até faço figas
Para que se
esqueçam de mim
Ouviram bem?
Esqueçam-se de mim
Estou a pedir-vos
encarecidamente que se esqueçam de mim.
Se vos dá assim tanta
satisfação
Serem pessoas
importantes
Sejam importantes
sozinhos
Sejam elegantes
sozinhos
Sejam conhecedores
sozinhos
Mas comigo... não!
Eu quero estar de
fora dessa relação carniceira
Quero viver a vida
à minha maneira!
© Brites dos Santos
© Brites dos Santos
Maravilha!!...adoro este teu poema e partilho do teu sentimento aqui tão bem descrito...BRAVO! :)
ResponderEliminarMuito bom :)
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