HOMENAGEM AO POETA ANTÓNIO FORTE
ORGANIZEI ESTA HOMENAGEM AO GRANDE POETA DA PÓVOA NO ANO DE 2005
VÁRIOS AMIGOS QUE O CONHECERAM RECORDARAM A SUA PASSAGEM PELA PÓVOA
Por iniciativa de Brites dos Santos,
um grupo de poetas "Poetas da Póvoa" e "Elos da Poesia"
homenagearam na noite de 23 de setembro de 2005,
António Forte
Nascido na cidade
Póvoa de Santa Iria
um grupo de poetas "Poetas da Póvoa" e "Elos da Poesia"
homenagearam na noite de 23 de setembro de 2005,
António Forte
Nascido na cidade
Póvoa de Santa Iria
A homenagem
realizou-se no Salão Nobre da Quinta da Piedade,
gentilmente cedido pela CM de V.F. de Xira
Vários poetas recitaram poemas de António Forte
acompanhados à viola pelo nosso querido amigo
José Afonso
realizou-se no Salão Nobre da Quinta da Piedade,
gentilmente cedido pela CM de V.F. de Xira
Vários poetas recitaram poemas de António Forte
acompanhados à viola pelo nosso querido amigo
José Afonso
António José Forte
nasceu em 1931,
na Póvoa de Santa Iria.
Ligado ao movimento surrealista,
fez parte na década de 50 do chamado grupo do Café Gelo.
Trabalhou na Fundação Calouste Gulbenkian,
onde desempenhou durante mais de vinte anos
as funções de Encarregado das bibliotecas Itinerantes.
Faleceu em Dezembro de 1988.
nasceu em 1931,
na Póvoa de Santa Iria.
Ligado ao movimento surrealista,
fez parte na década de 50 do chamado grupo do Café Gelo.
Trabalhou na Fundação Calouste Gulbenkian,
onde desempenhou durante mais de vinte anos
as funções de Encarregado das bibliotecas Itinerantes.
Faleceu em Dezembro de 1988.
Foi casado com a artista plástica Aldina Costa (1929/2011)
que não esteve presente na homenagem, por razões de saúde.
Entre outros livros publicou:
40 Noites de Insónia de Fogo de Dentes numa Girândola Implacável e Outros Poemas (1958)
Uma Rosa na Tromba do Elefante(1971) – livro para crianças
Uma Faca nos Dentes (1983) – prefácio de Herberto Helder e desenhos de Aldina
Azuliante (1984)
Caligrafia Ardente (1987)
Corpo de Ninguém (1989)
Uma Faca nos Dentes (2003)– reedição com inéditos
AZULIANTE
Este poema
começa com um homem de tronco nu
à sua mesa de trabalho e hiante
a esta hora em que de oriente a ocidente
se acendem lâmpadas trémulas e bárbaras e ferozes
e o mar é o teu nome a esta hora pétala a pétala
em que subirei de avião para ir beijar-te os olhos
e ver no meio do deserto o único
o magnífico devorador de rosas a comer um pão
enquanto do Oceano resta apenas
o silêncio de uma lágrima caindo nos joelhos de uma criança
Espera-me onde um nome há no Ar escrito com saliva azul
com raiva azul
como a urina violenta dos amantes
com a sua flor azul à superfície onde crepita a morte
Choverá muito eu sei choverá muito
e não porei uma pedra branca sobre o assunto digo
sobre o tremor de terra em que tu danças
na tua roda de cigarros cada vez mais depressa cada vez mais depressa
e lento o peixe de plumas de águia letra a letra
dá a volta ao mundo dos teus olhos
enquanto a dentadura cintilante pronuncia o grande uivo
de oriente a ocidente
Certas palavras muito duras quando a noite cai
não devem ter outra origem sabem tão bem quanto eu
porque agora a lava das lágrimas ao crepúsculo
são as rosas com que o poeta fala
à multidão em volta do crocodilo o animal repugnante
de costas para a luz contra o grande uivo:
de oriente a ocidente a mesma flor podre o estado
os segredos de estado as razões de estado a segurança do estado
o terrorismo de estado os crimes contra o estado
e o equilíbrio do terror
de oriente a ocidente meu amor de oriente a ocidente
Digo não Eu digo não
digo o teu nome que diz não
No entanto às portas da cidade e ao pé de cada árvore
à espera que tu chegues ou passes simplesmente
estão os grandes do império com o chapéu na mão para cumprimentar-te
Então passas tu com a lua no peito
dividindo distribuindo os alimentos
passas tu devagar atirando as moedas
que os dias não aceitam e gastamos depressa
noite mil e uma noites de quem espera
Meu amor países pátrias têm todos um nome
de letras imundas que não é para escrever
Se ainda podes ouvir o búzio da infância
ouvirás com certeza o sinal de partir
No comboio multicor sobre carris ferozes e azuis
que há mil anos dá a volta ao mundo
sou eu o homem que viaja nu porque eu sou
o arco-íris e a rosa no trapézio
e tu toda a paisagem que atravesso
como se fosse de bicicleta
como se fosse sílaba a sílaba
a primeira frase da terra
tu com as tuas luvas de amianto ao lado do vulcão
com a tua máscara de olhar a aurora boreal
de me olhares para sempre nua eu a tempestade
de coração a coração
Roda sórdida da razão cínica e canto de galos
depenados vivos que cantam nos intervalos da morte
no meu livro de horas deste século
está escrito que o homem livre fará o seu aparecimento
sob a forma de um cometa de cauda fascinante
que arrastará os amorosos até ao centro do mundo
donde partirão na rosa-dos-ventos e este será o sinal
começa com um homem de tronco nu
à sua mesa de trabalho e hiante
a esta hora em que de oriente a ocidente
se acendem lâmpadas trémulas e bárbaras e ferozes
e o mar é o teu nome a esta hora pétala a pétala
em que subirei de avião para ir beijar-te os olhos
e ver no meio do deserto o único
o magnífico devorador de rosas a comer um pão
enquanto do Oceano resta apenas
o silêncio de uma lágrima caindo nos joelhos de uma criança
Espera-me onde um nome há no Ar escrito com saliva azul
com raiva azul
como a urina violenta dos amantes
com a sua flor azul à superfície onde crepita a morte
Choverá muito eu sei choverá muito
e não porei uma pedra branca sobre o assunto digo
sobre o tremor de terra em que tu danças
na tua roda de cigarros cada vez mais depressa cada vez mais depressa
e lento o peixe de plumas de águia letra a letra
dá a volta ao mundo dos teus olhos
enquanto a dentadura cintilante pronuncia o grande uivo
de oriente a ocidente
Certas palavras muito duras quando a noite cai
não devem ter outra origem sabem tão bem quanto eu
porque agora a lava das lágrimas ao crepúsculo
são as rosas com que o poeta fala
à multidão em volta do crocodilo o animal repugnante
de costas para a luz contra o grande uivo:
de oriente a ocidente a mesma flor podre o estado
os segredos de estado as razões de estado a segurança do estado
o terrorismo de estado os crimes contra o estado
e o equilíbrio do terror
de oriente a ocidente meu amor de oriente a ocidente
Digo não Eu digo não
digo o teu nome que diz não
No entanto às portas da cidade e ao pé de cada árvore
à espera que tu chegues ou passes simplesmente
estão os grandes do império com o chapéu na mão para cumprimentar-te
Então passas tu com a lua no peito
dividindo distribuindo os alimentos
passas tu devagar atirando as moedas
que os dias não aceitam e gastamos depressa
noite mil e uma noites de quem espera
Meu amor países pátrias têm todos um nome
de letras imundas que não é para escrever
Se ainda podes ouvir o búzio da infância
ouvirás com certeza o sinal de partir
No comboio multicor sobre carris ferozes e azuis
que há mil anos dá a volta ao mundo
sou eu o homem que viaja nu porque eu sou
o arco-íris e a rosa no trapézio
e tu toda a paisagem que atravesso
como se fosse de bicicleta
como se fosse sílaba a sílaba
a primeira frase da terra
tu com as tuas luvas de amianto ao lado do vulcão
com a tua máscara de olhar a aurora boreal
de me olhares para sempre nua eu a tempestade
de coração a coração
Roda sórdida da razão cínica e canto de galos
depenados vivos que cantam nos intervalos da morte
no meu livro de horas deste século
está escrito que o homem livre fará o seu aparecimento
sob a forma de um cometa de cauda fascinante
que arrastará os amorosos até ao centro do mundo
donde partirão na rosa-dos-ventos e este será o sinal
Magnífica homenagem a António Forte e sua esposa (Pintora Aldina), grande valores da nossa poesia e que fizeste muito bem recordar aqui, Artur! Bem hajas :)
ResponderEliminar